Os argentinos tentam entender os motivos que levaram o papa Francisco a visitar vários países da América do Sul – menos a Argentina. A primeira visita, três meses depois de assumir o Vaticano, em março de 2013, foi ao Brasil. Ele também esteve na Bolívia, no Paraguai e no Chile. Durante doze anos de papado, o pontífice visitou 66 países. Por isso, ganhou a definição de ‘papa peregrino’. Após a sua morte, na segunda-feira de Páscoa, a pergunta, que os argentinos (católicos ou não) já se faziam, ganhou mais força: por que o papa argentino não visitou a Argentina.
Nas várias vezes em que foi perguntado por jornalistas argentinos sobre quando desembarcaria na sua terra natal, ele respondia sem confirmar ou negar a possibilidade. Argumentou, por exemplo, que era um problema de agenda. Sua visita ao país vizinho do Brasil foi esperada por muito tempo, até que depois da pandemia e com os problemas de saúde do papa, que se definia como “muito argentino”, seus conterrâneos pareciam resignados. “Ele chegou a sobrevoar nosso país, mas aqui, infelizmente, não aterrissou”, disse um fiel, aposentado, em conversa com a reportagem na Praça de Maio, logo após a informação sobre sua morte.
Amigo do pontífice e ex-embaixador argentino no Vaticano, o deputado peronista Eduardo Váldes, sugeriu, na terça-feira, que ele não visitou a Argentina devido à desunião no país. “Ele sentia que para vir a Argentina era necessária a unidade. ‘Hoje, conseguimos, Francisco: aqui está a Câmara dos Deputados reunida e com o apoio de todos os líderes partidários, que decidiram suspender as disputas políticas e te render uma homenagem respeitosa.’”
Os deputados argentinos fizeram a homenagem em uma sessão especial que foi interpretada como uma trégua entre opositores. Na sessão, o líder da Democracia para Sempre, Pablo Juliano, fez questão de lembrar que Milei tinha se referido ao papa como “o representante do Mal na Terra”. Milei, porém, embarcará, nesta quinta-feira, para participar da cerimônia de despedida do papa, que contará com a presença de vários líderes mundiais, no sábado. Milei parece ter sido um dos poucos a manter o tom ríspido nesta semana de luto, decretada por ele mesmo. Em sua conta no X, voltou a agredir jornalistas, economistas e opositores. Porém, foi sua vice-presidente, Victoria Villarruel, com quem não fala, o alvo de insultos à saída da basílica de São José de Flores, no bairro portenho de Flores, onde o então jesuíta Jorge Bergoglio serviu, fez amigos e contou, em livros, que ali teve a confirmação de que seu caminho era o da fé, da igreja.
“Nazista, fora daqui. Defensora da ditadura”, gritaram fiéis do lado de fora do templo que estava tão cheio que a multidão chegava à rua. Villarruel foi publicamente contra as políticas de direitos humanos da Argentina, jamais condenou o golpe militar (ao contrário) e suas agruras durante a ditadura (1976-1983). Ela quis até acabar com símbolos daqueles horrores como a ex-ESMA, que foi um centro de tortura e agora é um espaço de memória, para que não se esqueçam as atrocidades dos ditadores.
O Arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, admirador e aliado do papa, sugeriu que talvez Francisco não tenha visitado sua terra natal para evitar ser motivo de discórdia – logo ele que, como pontífice peregrino, pregou a paz e a união e já tinha sepultado há tempos as críticas que fez, quando foi arcebispo de Buenos Aires, contra algumas medidas do kirchnerismo.
No Vaticano, o papa recebeu a ex-presidente Cristina Kirchner várias vezes e também Macri (com quem tirou uma foto histórica com cara de poucos amigos), Alberto Fernández e até Milei. Na despedida, sábado (26), além de Milei, é prevista a presença de Trump. E, num mundo tão turbulento e agressivo, em tempos de Trump, Milei e Bukele, vale destacar a frase do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, após a morte de seu admirado amigo Francisco: “Compartilhávamos as mesmas esperanças (de um mundo menos desigual, preocupado com os mais pobres e sem corrida armamentista). Sinto que ele se foi cedo demais.”
“Nazista, fora daqui. Defensora da ditadura”, gritaram fiéis do lado de fora do templo que estava tão cheio que a multidão chegava à rua. Villarruel foi publicamente contra as políticas de direitos humanos da Argentina, jamais condenou o golpe militar (ao contrário) e suas agruras durante a ditadura (1976-1983). Ela quis até acabar com símbolos daqueles horrores como a ex-ESMA, que foi um centro de tortura e agora é um espaço de memória, para que não se esqueçam as atrocidades dos ditadores.
O Arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, admirador e aliado do papa, sugeriu que talvez Francisco não tenha visitado sua terra natal para evitar ser motivo de discórdia – logo ele que, como pontífice peregrino, pregou a paz e a união e já tinha sepultado há tempos as críticas que fez, quando foi arcebispo de Buenos Aires, contra algumas medidas do kirchnerismo.
No Vaticano, o papa recebeu a ex-presidente Cristina Kirchner várias vezes e também Macri (com quem tirou uma foto histórica com cara de poucos amigos), Alberto Fernández e até Milei. Na despedida, sábado (26), além de Milei, é prevista a presença de Trump. E, num mundo tão turbulento e agressivo, em tempos de Trump, Milei e Bukele, vale destacar a frase do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, após a morte de seu admirado amigo Francisco: “Compartilhávamos as mesmas esperanças (de um mundo menos desigual, preocupado com os mais pobres e sem corrida armamentista). Sinto que ele se foi cedo demais.”
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