Crimes na Pensão
— Por que estamos aqui mesmo, hum? — indagou um jovem rapaz de cabelos castanhos e ondulados na altura dos ombros.
— Pra descobrir o paradeiro do Billy — respondeu a moça, vestida em trajes masculinos, cabelos num tom loiro meio ruivo, bem curtos.
— Não vai querer afrouxar agora, vai? — o outro rapaz provocou. Usava pequenos óculos redondos, pele morena e cabelos crespos.
— Não queira dizer que eu sou covarde, Jacob — rebateu.
— Rapazes, não é hora de discussão. Vamos perguntar ao moço ali onde podemos achar um local para passar a noite.
O porteiro indicou aos três o mesmo hotel que havia indicado a Billy, um ano antes. Eles agradeceram e seguiram caminho.
— Acho que estamos seguindo os passos dele. O moço disse que geralmente à noite indica esse local — a jovem informou.
— Assim espero — Jacob comentou.
Mal fizeram parte da caminhada pela larga rua e um deles já se pôs a reclamar.
— Florence, falta muito pra chegar? Se demorar mais eu vou dormir na rua.
— Thomas, larga de preguiça — ela retrucou.
Ele fez cara feia e olhou pro lado, nisso parou de andar.
— Gente! Pra quê se matar de andar pra ir até o Bell and Dragon, se a gente pode se hospedar aqui?! — apontou.
— Que lugar é esse? — ela perguntou.
Era uma casa igual tidas as outras naquela rua, o que a diferenciava das demais era um cartaz onde estava escrito HOSPEDARIA.
— Não acho que seja má ideia — Jacob disse avaliando o local.
— Não sei... Me parece meio deserto — a jovem analisou.
— Aí que é melhor ainda, sem ninguém pra nos incomodar — Thomas argumentou.
— Não vejo lógica nisso. Quem iria nos incomodar lá? — Florence questionou.
— Tem razão, Flo — Jacob concordou.
— Se vocês quiserem ir, podem ir, mas eu vou ficar. Não estou disposto a mover nem mais um músculos pra longe daqui.
— Flo, a gente pode ficar, né?
— Você quer ficar?
— Por mim não tem problema — Jacob disse.
Thomas tocou a campainha e uma mulher de meia idade escancarou a porta quase que estantaneamente.
— Sejam bem vindos! Podem entrar — ela convidou, sorridente. Seu rosto era arredondado e os olhos azuis, cabelos castanhos na altura do queixo.
Os dois foram logo entrando, mas Florence hesitou, sentiu um frio na espinha.
— Entre, senhorita — a mulher encorajou.
Não queria ser desagradável, então não pestanejou, apenas seguiu seus amigos.
— Vimos o cartaz na janela — Thomas disse, contendo-se.
— Sim, meu anjo, os quartos estão todos prontos para vocês.
Enquanto a mulher e os dois rapazes conversavam sobre a estadia no local, Florence começou a observar tudo em volta. O lugar era aparentemente normal, só um pouco deserto e silencioso, afinal, era noite, mas... no hall não tinha nada, estava vazio. Nada de chapéus, casacos, guarda-chuvas ou bengalas, nada mesmo. Ela achou estranho, não pouco estranho, muito estranho.
Observou mais e logo percebeu que os animais vistos pelos seus amigos através da janela não estavam vivos. Aproximou-se do papagaio, passou os dedos por entre as grandes da gaiola e tocou no bichinho. Estava rígido e frio, muito frio, a pele perfeitamente preservada.
— Nossa! Ela tem animais espalhados — pensou consigo mesma.
Procurando mais elementos que pudessem convencer seus amigos de que aquele lugar não era o que parecia, avistou o livro de hóspedes aberto sobre o piano. Dirigiu-se até lá e folheou algumas páginas, e inesperadamente encontrou um nome que a deixou muito, mais muito preocupada: Billy Weaver.
Era como se tudo fizesse sentido, toda a sensação ruim que sentia pela casa, toda a estranheza, tudo isso porque a pessoa que ela tanto buscava esteve naquele lugar. Paralisada, sentia um aperto no coração, um frio, um medo percorria por todo seu corpo, era como se o mundo ao redor dela girasse cada vez mais insano, e tudo estava começando a escurecer e desvanecer. Ela cairia numa liquidez de desespero se não tivesse sido despertada.
— Florence! Ei! Vamos ver os quartos — Jacob chamou.
— Ãn? O quê? — Ainda estava atordoada.
— O que você tá fazendo aí? — Thomas perguntou, impaciente.
— Ah, é o livro de hóspedes — a mulher observou. — Está anotando seus nomes?
— Sim, sim... eu já tô terminando, vão na frente — mentiu.
— Tá bom — Thomas disse, sem pestanejar.
Os três foram subindo as escadas, enquanto ela rapidamente anotava no livro. Terminou, largou a caneta e se mandou atrás deles. Florence os alcançou quando estavam prestes a subir as escadas para o segundo andar.
— É um imenso prazer, meus benzinhos, uma imensa felicidade receber em meu humilde ninho rapazes tão jovens e bonitos. — Parou e virou-se para vê-los, passeando seu olhar lentamente por todo o corpo de cada um deles, até os pés, depois novamente até a cabeça. — Como vocês. — acrescentou. Viu a moça chegar. — E senhoritas tão encantadoras — completou.
Florence apenas sorriu para tentar dissipar qualquer desconfiança de desconforto.
— O prazer é todo nosso, dona, somos sortudos — Thomas falou, perdidamente encantado.
Chegaram no segundo andar. A mulher mostrou-lhes os quartos.
— Esse é o quarto de vocês, meus anjos — dirigiu-se aos rapazes. — E esse ali do lado é o seu quarto, meu bem — informou a Florence. — Espero que gostem. Os lençóis estão todos limpos e bem arejados, tudo pronto para vocês, meus amores.
— Muito obrigado! A senhora é um anjo — Thomas falou.
— Anjo, eu? Quem me dera, só cuido da pensão e dos meus hóspedes — Fitou os dois rapazes de cima a baixo, com seus enigmáticos olhos azuis. — da melhor maneira que posso. Agora se me derem licença, eu vou lá em baixo fazer um cházinho. Desçam lá antes de deitar, um chá é sempre bom pra relaxar.
— Claro que iremos. Até mais dona — Jacob disse.
A mulher desceu as escadas, e Florence imediatamente lançou um olhar de reprovação para os dois rapazes. Thomas retribuiu com um olhar debochado e entrou no quarto, e Jacob ficou confuso, mas seguiu o amigo para dentro do aposento.
— Ela tá com ciúmes — Thomas falou após Jacob entrar, já estava sentado em uma das camas.
— Ciúmes de quem?
— De mim, é óbvio. Flo acha que a dona tá se engraçando comigo.
— Olha, que aquela mulher parece querer flertar com a gente, não só com você, parece — Jacob observou.
Thomas riu-se.
— A dona é carente de atenção, vive sozinha na pensão, talvez porque a rejeitam por não bater muito bem da bola. — Tirou a camisa.
— Se você pensa assim, quem sou eu pra contestar — disse Jacob.
De repente a porta foi aberta, fazendo os dois pularem de susto.
— Vocês precisam me ouvir — Florence falou fechando a porta atrás de si. — Esse lugar não é o que vocês pensam que é. — Trancou a fechadura.
— Florence, eu estou me despindo! — Thomas bradou.
— Isso é o que menos importa nesse momento. — Ela caminhou até o lado oposto ao da porta, ficando próxima à janela. — Não tem mais ninguém aqui além da gente.
— Novidade — Thomas debochou.
— Essa mulher possui animais empalhados.
— Uau! — Jacob surpreendeu-se. — Peraí, o cachorro e o papagaio?
— Sim. E se ela é capaz de empalhar um animal, pode muito bem fazer isso com um ser humano também.
Thomas soltou uma gargalhada.
— Você tá maluca mesmo. Julga uma mulher tão boa e doce de assassina apenas por saber a arte de empalhar. Logo você, que gosta de dar uma de justiceira — provocou.
Florence respirou fundo e fechou os olhos, precisava de muita paciência pra dialogar com ele.
— O Billy esteve aqui.
— O quê? O Billy?
— Ah tá. E como você sabe disso? — Thomas questionou, incrédulo.
— Eu vi o nome dele escrito no livro de hóspedes.
— Então quer dizer que o investigador pode ter deixado passar esse detalhe, ou melhor, esse lugar, durante as investigações — Jacob supôs.
— Meus amigos — Thomas começou —, o Billy só deve ter ficado aqui por uma noite e no dia seguinte seguiu seu rumo, quando muito provavelmente foi sequestrado. Ele não conhecia Bath, não conhecia ninguém aqui, por isso foi fácil liquidarem a existência dele sem deixar rastros. E convenhamos, Billy era um jovem forte e saudável, uma mulher como essa dona não teria forças pra fazer nada contra ele.
Florence inchou de raiva, como ele poderia fazer tão pouco caso do próprio amigo? Era crueldade demais para ela suportar.
— Depois não diga que eu não avisei — ela declarou, em seguida saiu do quarto e parou em frente ao parapeito do andar, com lágrimas de fúria nos olhos.
— Flo! — Jacob foi atrás dela. — Flo, não fica assim, eu acredito em você, acho que pode estar certa.
— Mas ele não me escuta!
— Ei! — Abraçou-a. — Vamos ficar bem atentos em relação à essa dona, quanto ao Thomas, se ele insistir em ser um idiota, a gente deixa ele se fuder sozinho.
— Obrigada por me apoiar — ela agradeceu.
— Estarei com você sempre.
Após Thomas terminar de se trocar, os três desceram até o térreo. Ao vê-los a mulher logo se animou.
— Que bom que vieram! Podem se sentar, vou buscar o chá e os biscoitos. — Apontou o sofá perto da lareira e foi pra cozinha.
Thomas logo se acomodou num canto.
Florence olhou para Jacob e sussurrou bem baixinho:
— Não aceite nada.
Ele concordou com a cabeça e foi sentar-se ao lado do amigo, e Florence ficou do outro lado da sala, sentada em uma das poltronas estofadas.
A dona da pensão adentrou a sala com uma bandeja de prata nas mãos.
— Senhorita, vai ficar aí? Porque não se senta conosco? — perguntou pondo a bandeja sobre a mesa baixa em frente ao sofá.
— Não. Eu não estou muito bem, só vim pra acompanhar meus amigos.
— Então tome um pouco de chá pelo menos — a mulher sugeriu.
— Eu tô enjoada da viagem. Mesmo assim obrigada — disse, tentando parecer o mais natural possível.
— Tudo bem. O que precisar é só falar, meu bem. — Sentou-se ao lado de Jacob, pegou uma xícara e o entregou.
— O que tem no chá? — ele quis saber.
— Amêndoas.
— Eu imaginei pelo cheiro. Infelizmente não posso tomar, tenho alergia a amêndoas — disse entregando-lhe a xícara de volta.
— Desde... — Thomas já ia falando, mas Jacob deu-lhe um esbregue na perna. Ele chega ficou pianinho.
— É uma pena — ela lamentou. — Quer biscoitos de gengibre, então?
— Muito obrigado, mas eu não gosto muito nem de biscoitos e nem de gengibre, e muito menos ainda de comer a essa hora da noite.
— Entendo. E você, sr. Williams?
— Wilkins. Thomas Wilkins — ele corrigiu.
— Perdão, eu tenho memória muito ruim. Sr. Wilkins, quer chá?
— Adoraria, quero também os biscoitos.
Enquanto tomavam o chá, Florence ficou observando atentamente a maneira como a mulher se comportava, era nitidamente anormal. Os três estavam em silêncio e a dona não tirava os olhos dos rapazes. Jacob era o que mais estava desconfortável com isso, ele não tomava chá, nem comia nada, o que dificultava mais ainda encontrar uma maneira de se distrair, fingir que não estava sendo observado.
— O sr. Mulholland gostava muito de chá, tomava bastante — a dona comentou depois de um tempo.
— Eu também gosto muito de chá — Thomas declarou.
— Ele era um rapaz de tamanha beleza, assim como vocês. — Tomou um gole de chá encarando-os por cima da xícara.
— A senhora gosta muito de seus hóspedes, não é? — Jacob observou.
— Sim. Todos sempre muito bonitos e charmosos, na idade perfeita! — exclamou. — A propósito, quantos anos vocês têm, meus benzinhos?
— Eu tenho dezoito — Jacob respondeu.
— Dezessete — disse Thomas.
— Bom! Muito bom! — Pôs sua pequenina e pálida mão sobre o joelho de Jacob.
Florence se sentiu incomodada com aquela ação. Ver aquelas unhas vermelhas como sangue tão perto do rapaz lhe causou um aperto no coração. Ele também se sentiu incomodado, ela sabia disso porque ele mexia nos óculos quando ficava desconfortável com alguma coisa, e foi exatamente isso que rapaz fez, porém não disse nada, deixou que a mulher continuasse em seus devaneios.
— O sr. Weaver tinha a mesma idade que você, sr. Wilkins, ele servia exatamente, assim como você também. E você, sr. Jones.
Jacob esperou que ela dissesse mais alguma coisa, entretanto ela parecia perdida em seu silêncio. Thomas nem se importava com nada que a mulher falava, apenas aceitava.
— A senhora deve ter ficado muito triste quando ele partiu, não é? — Jacob comentou.
— Ele quem?
— O sr. Weaver.
— Ele nunca partiu, meu bem. O sr. Weaver, o sr. Mulholland, os dois continuam aqui. Estão no terceiro andar.
Jacob se assustou com o que a dona dissera, se ainda estavam ali, como a casa estava vazia? E quanto a Florence, pra ela não havia mais dúvidas de que aquela mulher, aparentemente inofensiva, era a assassina de seu amigo.
Depois do chá, os três subiram para os seus quartos. Florence passou uns dez minutos pensando no que fazer em relação à dona da pensão, e como sair dali sem levantar suspeitas. Pretendia buscar Thomas e Jacob pra arrastar os dois dali e irem direto até a polícia, denunciar a mulher. Girou a maçaneta, mas a porta não abriu. Forçou, balançou, sacudiu, e nada da porta abrir, estava trancada por fora.
— O quê? — desesperou-se. — Ela me trancou aqui... — Tentou abrir a porta novamente, em vão.
Começou a andar de um lado para o outro, labutando uma forma de sair, olhou para o lado e viu a janela. Tentou abrir, mas parecia estar colada, grudada, chumbada na parede de uma forma inexplicável, não teve outra opção a não ser pegar uma estátua que estava sobre a cômoda e quebrar os vidros. Removeu o máximo de cacos possível para que quando passasse pela janela, não se machucasse tanto. Passou primeiro a perna direita, pondo o pé no beiral, depois a cabeça e o corpo, e por último a perna esquerda, ficando de costas pra janela e de frente para o escuro abismo da noite. Começou a se arrastar para a esquerda, que era a direção do quarto dos amigos, até chegar na outra janela e ver uma cena aterrorizante.
Jacob estava amarrado à cama, com uma fita tapando-lhe a boca, desesperado, e aquela mulher maligna preparando uma seringa para aplicar no braço dele. Florence rapidamente quebrou a janela e entrou.
— Larga ele! — gritou correndo em direção à dona, com a estátua em punho.
Desferiu-lhe um golpe, a mulher quase caiu de cara no chão, só não aconteceu porque parou na cômoda, e a seringa voou longe. A dona logo se recuperou e rumou o abajur em Florence, que acabou deixando a estátua cair. A mulher foi pra cima dela e as duas entraram em luta corporal, trocando murros e arranhões. Era bem ágil para alguém de quase cinquenta anos.
Jacob estava desesperado, porém imobilizado, sem poder fazer nada pra ajudar, e Thomas, aparentemente adormecido na outra cama... ou não.
Florence derrubou a dona, pretendia chutá-la, mas a mulher foi mais rápida. Pegou a estátua e tacou nas pernas da jovem, que tentou se levantar, sendo atingida novamente, agora na cabeça, e caiu de bruços. Após isso ela não se mexeu, a mulher supôs que estava inconciente. Procurou a seringa e encontrou o objeto debaixo da cama onde Jacob estava, mas agulha havia sido quebrada, não serviria mais, e a substância que estava dentro, derramou quase pela metade.
— Vou ter que descer pra pegar outra. Não se preocupe, meu bem, eu já volto. — disse para Jacob, em seguida pôs a seringa em cima da bandeja que estava sobre a cômoda.
Caminhou até a porta, parou, olhou para dentro do quarto e disse:
— Sr. Wilkins, logo logo você estará juntinho a todos os meus benzinhos. — Olhou para Jacob. — Você também, sr. Jones. — Deu um sorriso psicopático, saiu do quarto e trancou a porta.
Era possível ouvir seus passos se afastando e uns dez segundos depois Florence levantou, tirou a fita da boca do amigo e falou:
— Precisamos sair daqui.
— Ela é louca! — ele exclamou apavorado.
— Eu sei. — Pegou um estilete no bolso e cortou as amarras que prendiam o rapaz, em seguida foi chamar o outro. — Thomas. Thomas...
— Flo, ele já não tá mais aqui.
Era evidente que o que Jacob acabara de dizer era realidade, Thomas não se mexia, não respirava, seu corpo estava frio. As lágrimas começaram a brotar nos olhos da moça.
— Esse idiota não quis me ouvir... não acreditou em mim, e agora...
— Ei! O que aconteceu com o Thomas não dá pra consertar, mas não podemos deixar que ela faça o mesmo com a gente — Jacob falou.
— Tem razão — disse enxugando as lágrimas. — Precisamos de um plano.
— Ela trancou a porta e levou a estátua — ele informou.
Ela pensou um pouco, olhou em volta e viu um cabideiro de chão feito de ferro.
— Tive uma ideia...
A dona da pensão voltou trazendo duas seringas. Abriu a porta, entrou e viu que nem a moça, nem o rapaz estavam onde os havia deixado. Florence, então, saiu de trás da porta e deu-lhe uma pancada pelas costas, fazendo-a cair e derrubar as outras seringas. Quando ia desferir outro golpe, a mulher segurou e puxou o cabideiro, fazendo a jovem se desequlibrar e cair pra frente, sobre a cama onde o corpo sem vida de Thomas repousava, e depois direto para o chão.
Jacob iria acertá-la com um pedaço de madeira, mas além de não estar enxergando por não usar os óculos no momento, a mulher foi muito rapida, levantou e o atingiu com o cabideiro, depois golpeou Florence, que ainda estava tentando se levantar, em seguida pegou o abajur quebrado e jogou contra o rosto do rapaz. Ele soltou gritos de dor, o objeto estava extremamente cortante. Voltou a bater em Florence, que agonizava, contorcia-se, mas foi interrompida, puxada pelos cabelos por Jacob. A dona lutava para se soltar, largou o cabideiro, rumou-o contra a cômoda, depois cairam no chão, mas ele não largava seus cabelos por nada.
A mulher empunhou uma faca que estava escondida no cinto e golpeou Jacob na barriga, fazendo-o soltar um grito estridente. Florence sentiu a dor dele na própria alma e gritou desesperadamente:
— NÃÃÃO!
A dona desferiu-lhe uma segunda facada, e iria iniciar uma sessão de esfaqueamento se não tivesse sentido uma dor fina na perna. Olhou e viu que Florence havia aplicado seu próprio veneno, a substância da seringa, nela. A jovem tirou-a de cima de Jacob, arrancou-lhe a faca da mão, pegou o cabideiro e começou a batê-la.
— Essa é pelo Billy. — disse e desferiu um golpe bem forte, fazendo a mulher gemer de dor. — Essa é pelo Thomas. — Bateu novamente. — Essa é pelo Jacob. — Bateu outra vez, e dona contorcia-se de dor. — Essa é por todas as vítimas que fez. — Desferiu outro golpe. — E essa é por mim — finalizou e bateu o mais forte que pôde, e a mulher soltou um grito medonho.
© Geovana Styler
Florence saiu do quarto e jogou pelo parapeito do segundo andar a outra seringa, que ainda estava intacta, junto com a faca.
— Flo... — Jacob tentou avisar, mas não adiantou muita coisa, em poucos segundos a mulher já estava indo com tudo pra cima da jovem.
A dona tentou derrubar Florence de lá de cima, o que caiu foi apenas o cabideiro, a jovem equilibrou-se e começou a arrastá-la para o lado, com o intuito de mudar de posição e fazer o que a mulher não conseguiu. Foi um pouco mais complicado do que imaginou, a dona tinha uma força inexplicável, e era de uma ferocidade terrível.
— Eu vou te matar, sua intrometida desqualificada! — a mulher esbravejou.
Florence nem deu ouvidos, aproveitou esse momento de breve distração e descontrole de forças, e deu-lhe uma rasteira. A dona se desequilibrou, ela, então, a empurrou por sobre o parapeito, fazendo-a emborcar, sem ter a menor possibilidade de se segurar. Durante a queda, seu grito de desespero pôde ser ouvido em todos os cantos da casa, tão aterrorizante que até os pelos dos animais empalhados se arrepiaram com tamanho horror, até que ela chegasse no chão. Florence olhou para baixo e viu a mulher esparramada no chão e a poça de sangue se formando sob a cabeça, deplorável.
Nem teve tempo de pensar em respirar, logo lembrou de Jacob e saiu correndo para o quarto.
— Jacob! Jacob! — Ajoelhou-se ao seu lado. — Fica aqui comigo, por favor! Não se vá! Não sei o que eu faria sem você — ela implorava, tocando em seu rosto e nos cabelos.
— Eu tô aqui. Eu não vou... — ele dizia com um pouco de dificuldade.
— Já perdi todo mundo que eu amava, não posso perder você também. — As lágrimas corriam soltas pelo seu rosto.
— Ei! — Ele enxugou os olhos dela. — Eu vou ficar bem.
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