Verba pública a partidos aumentou quase 500% em 20 anos
Fundo Partidário, que atingirá cerca de R$ 1 bilhão em 2019, foi engordado nas últimas décadas ao mesmo tempo em que o número de siglas no País se multiplicava
© REUTERS/Ricardo Moraes
O dinheiro público destinado aos partidos políticos cresceu
quase 500% desde 1996. O Fundo Partidário, que atingirá montante próximo a R$ 1
bilhão no próximo ano, foi engordado nas últimas décadas ao mesmo tempo em que
o número de siglas no País se multiplicava. Em 2019, 30 partidos ganharam nas
urnas o direito de terem representação na Câmara dos Deputados, batendo mais um
recorde. Há 23 anos eram 19 legendas com assento no Congresso.
Previsto em R$ 927,7 milhões para o próximo ano, o fundo foi
criado em meados dos anos 1990 para financiar os custos administrativos das
legendas. É abastecido com dotações orçamentárias - aprovadas pelos próprios
deputados e senadores - e multas eleitorais aplicadas aos mesmos partidos.
O acesso a recursos públicos do Fundo Partidário é um dos
elementos que impulsionou a criação de novas siglas no Brasil nos últimos anos.
A fiscalização dos gastos pelo Tribunal Superior Eleitoral ocorre com bastante
atraso e a análise das prestações de contas já mostrou que a reserva financia
despesas que vão viagens de jatinho a até contas pessoais de dirigentes dos
partidos.
Após o Congresso aprovar em 2017 a criação de um fundo
eleitoral bilionário (R$ 1,7 bilhão), as siglas foram autorizadas este ano a
utilizar recursos do Fundo Partidário nas eleições. Na prática, os fundos de
dinheiro público compensaram a ausência dos recursos empresariais nas campanhas
- proibidos em decisão do Supremo Tribunal Federal em dezembro de 2015.
No ano que vem, as siglas que não superaram a chamada
cláusula de barreira nas últimas eleições não terão direito a receber o
dinheiro - o que pode significar a extinção destas legendas. Foi por isso que
algumas já anunciaram que vão se fundir. É o caso do Patriota com o PRP, do
PCdoB com o PPL e do Podemos, que superou a cláusula, com o PHS.
Ápice. Em valores corrigidos, o ápice do gasto público com
financiamento partidário ocorreu em 2015, no início do segundo mandato da
petista Dilma Rousseff, quando passou por um aumento grande em relação ao ano
anterior e atingiu o equivalente a R$ 1 bilhão nos dias de hoje. O mesmo
fenômeno de crescimento considerável ocorreu em 2011, outro ano que sucedeu
eleições gerais.
De 1996 para cá, o aumento tem sido constante ano a ano, com
a exceção de poucos períodos - que normalmente vêm depois de anos com grandes
acréscimos financeiros, como 2015. O valor caiu, por exemplo, em 2016 e 2017,
até voltar a crescer neste ano e no próximo. No acumulado, cresceu cerca de
470%.
Esse acréscimo, porém, foi acompanhado por uma
desconcentração dos recursos em razão da fragmentação partidária cada vez maior
da Câmara. Em 1996, os cinco partidos com maior porcentual do fundo representavam
82,7% do montante. Hoje, equivalem à metade: 41%.
Em 2019, a distribuição dos recursos vai marcar a saída do
MDB da lista de legendas mais beneficiadas pelo fundo. Está na sexta colocação
da lista, com R$ 52,8 milhões. Resultado diferente do PT e do PSDB, que, mesmo
com resultados decepcionantes em comparação com o histórico que vinham
registrando, se mantiveram nas três primeiras colocações.
"Ajustamos nossas despesas à nova realidade e enxugamos
a estrutura. Temos um projeto de autofinanciamento para não dependermos
exclusivamente do fundo", disse o presidente do MDB, Romero Jucá. O
projeto, segundo ele, será aplicado ano que vem nas esferas nacional, estaduais
e municipais.
Entre as principais legendas do País, o Novo é o único que
não utiliza o Fundo Partidário. Registrado em agosto de 2015, o Novo diz que
arrecada cerca de R$ 800 mil mensais de aproximadamente 30 mil filiados. Num
ano cheio, isso equivale R$ 9,6 milhões, valor inferior aos R$ 27,6 milhões a
que a legenda teria direito a partir do ano que vem.
"As eleições mostraram que, mesmo sem o fundo, temos
condições de participar do jogo. A ideia é manter essa estratégia e provocar
uma mudança de cultura", afirmou Moisés Jardim, presidente do Novo,
descartando a possibilidade de o partido passar a aceitar o dinheiro público do
fundo.
O PSL do presidente eleito, Jair Bolsonaro, será o maior
beneficiário a partir de janeiro, com cerca de R$ 110 milhões ao longo do ano.
Os partidos recebem valores calculados a partir da votação que obtiveram para a
Câmara dos Deputados, incluindo votos nominais e em legenda, que compõem 95% do
total distribuído. Os outros 5% são divididos igualmente entre as siglas que
superaram cláusula de barreira nas eleições.
Apesar de ter feito a maior bancada para a próxima
legislatura, com 56 eleitos, o PT perdeu para o PSL em número de votos para a
Câmara, já que a eleição proporcional segue critérios mais complexos. Nesse
contexto, o PSL receberá a maior fatia por ter vários campeões de votos, como Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, os dois
candidatos mais votados do País, ambos por São Paulo. O PT terá, ao longo do
ano, R$ 96,6 milhões, quase R$ 15 milhões a menos que o partido de Bolsonaro.
Para o professor da FGV Marco Antônio Teixeira, o fundo é malvisto
pela sociedade num contexto de crise de representação dos partidos e crise
econômica. "Essa visão obviamente advém sobretudo do fato de a sociedade
não ver um retorno dos partidos em prol do interesse público."
FONTE: O Estado de S. Paulo.
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TV POVÃO NEWS (por Gilvan da REDE)
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