Governo de Ortega fecha canal de TV e prende críticos na Nicarágua
No governo desde 2007, Ortega é acusado de corrupção por seus adversários e de instalar uma ditadura ao lado de sua mulher, Rosario Murillo, que é vice-presidente Foto: Jorge Cabrera / Reuters
Polícia invadiu canal a cabo 100% Notícias e prendeu
seu diretor, dois jornalistas e um analista que eram contrários à repressão
imposta pelo regime do presidente; perseguição a opositores aumentou no país
MANÁGUA - O
governo da Nicarágua fechou o canal 100% Notícias e prendeu seu diretor Miguel Mora, as jornalistas Verônica Chávez e Lúcia
Pineda Ubau, e o analista político Júlio López, neste sábado, 22. Agentes
entraram no edifício, tiraram o canal do ar e prenderam Mora,
denunciou em uma mensagem de Whatsapp a diretora da redação, Lucia Pineda.
A jornalista estava na emissora no momento da operação
e depois que ela divulgou a informação os outros funcionários perderam contato
com ela. As autoridades não se pronunciaram sobre a operação.
O canal a cabo 100% Notícias liderou a cobertura dos
protestos contra o governo do presidente Daniel Ortega iniciados em 18 de abril, que
criticavam a reforma da Previdência, mas que se transformaram em manifestações
que pediam a sua renúncia e de sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo. Os
protestos antigoverno já deixaram ao menos 320 mortos, segundo grupos
humanitários, e 198, de acordo com dados oficiais.
No auge dos protestos, o canal foi censurado por seis
dias. Nas últimas semanas, Mora e outros funcionários denunciaram que eram
perseguidos e detidos pela polícia.
A perseguição de Ortega a veículos opositores se
intensificou nas últimas semanas. As forças de segurança invadiram e ocuparam
há oito dias a redação do jornal digital Confidencial e dos programas de
televisão “Esta Semana” e “Esta Noite”, que pertencem ao jornalista Carlos
Fernando Chamorro.
Já o jornal popular Q’Hubo anunciou na sexta-feira que
deixará de circular na versão impressa temporariamente, diante de problemas de
acesso à matéria-prima para impressão causados pela crise política no país. O
jornal faz parte do mesmo grupo editorial do El Nuevo Diario, de circulação
nacional. Ambos são críticos de Ortega.
Na sexta-feira, a Organização dos Estados Americanos
acusou o regime de Ortega de cometer crimes contra a humanidade, segundo uma
investigação coordenada por um grupo de enviados pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH). O grupo investigou as mortes de manifestantes pela
repressão em abril e maio, e foi expulso do país na quarta-feira, na véspera da
apresentação dos resultados.
No Crise na Nicarágua em imagens: 100 dias de protestos
No relatório, os investigadores documentaram uma série
de violações de direitos humanos cometidas pelo governo, pela polícia e por
paramilitares. “O Estado da Nicarágua levou a cabo condutas que, de acordo com
o direito internacional, devem ser consideradas crimes de lesa humanidade,
particularmente assassinatos, privação arbitrária de liberdade e crime de
perseguição”, afirmaram os especialistas. / AFP e REUTERS
Fonte: ESTADÃO
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